Em última entrevista de série comemorativa, Silvestri Filho fala sobre os desafios de gestăo diante de grandes expectativas e afirma que a política vive um momento de muitas radicalizaçőes.
Redação
Após as comemorações do 196º aniversário de
Guarapuava, chegamos ao fim de nossa série de entrevistas com todos os
ex-prefeitos que passaram pela administração municipal. O amplo
panorama de perguntas, debates e reflexões criaou diversas perspectivas
sobre o pensamento político que permeou os processos eleitorais da
cidade desde a década de 1960, com a eleição do Sr. Nivaldo Krüger.
Esta semana concluímos nossa série com interessante
entrevista com o atual prefeito, César Silvestri Filho, que, num balanço
crítico, analisa seus três primeiros anos de gestão e reflete sobre as
necessidades de reinvenção da política como um todo para os próximos
anos. Diante de ponderações, Silvestri Filho comemora a publicação da
pesquisa realizada pela revista Isto É e pela agência Austin Rating, em
que Guarapuava foi reconhecida como o melhor sistema público de saúde
entre os municípios de médio porte do Paraná, alcançando também o 17º
lugar do Brasil.
Semanário Integração: Durante sua primeira gestão como
prefeito de Guarapuava, pode fazer uma autocrítica, algo que faria
diferente, ou algo que não fez que poderia ter feito?
César Silvestri Filho: Evidente que existe uma
grande diferença entre o que você projeta pessoalmente com a realidade
que você se depara, nós enfrentamos, em nossa gestão, anos extremamente
desafiadores. Como o período econômico bastante difícil já iniciado em
2013; em 2014 ocorreu a enchente que virou do avesso a nossa estrutura e
o nosso planejamento, e agora 2015, com a recessão econômica mais
severa dos últimos 30 anos. Tudo isso nos fez ter que ajustar nossa
rota, mudar prioridades, e evidentemente que isso teve como consequência
deixar de fazer algumas coisas. Mas, ao mesmo tempo nós fizemos uma
série de outras coisas positivas que tem feito a diferença na cidade e
que talvez seja o grande legado da nossa gestão. Há autocrítica,
evidente, mas é o processo normal da própria experiência do dia-dia, da
caminhada na prefeitura e uma série de outras coisas que ainda precisam
ser acertadas.
SI: Foi criada uma expectativa muito grande no período
eleitoral para esta gestão,a credita que essa expectativa tem sido um
problema, uma espécie de calcanhar de Aquiles em seu mandato?
C.F: Claro que a alta expectativa acaba sendo um
desafio adicional, porque além de realizar, tem de superar as
expectativas das pessoas que não têm limites. Alguns imaginavam que nós
resolveríamos todos os problemas da cidade em quatro anos, e isso acaba
gerando uma pressão grande. A expectativa é uma adversária sim, mas por
outro lado isso acaba nos estimulando. Não tenho receio de comparar
minha gestão com qualquer outra gestão que nos antecedeu. Isto é a
mudança de um paradigma. Eu diria que o grande legado disso tudo é viver
a perspectiva de um novo patamar. Guarapuava não é mais a mesma. Em
três anos, consolidamos processos de conquistas esperados por décadas.
Não é á toa que está acontecendo tudo isso em Guarapuava, é um processo
político, de articulação, de diálogos, de entender que não se faz tudo
sozinho.
SI: Alguns críticos dizem que muitas alianças políticas
prejudicam a gestão. O que faria de diferente numa eventual reeleição?
Pretende diminuir ou aumentar as alianças?
C.F: Eu discordo de quem fala que as alianças
prejudicam a gestão, porque em nenhum momento eu franqueei a
administração por partido. Não tenho nenhum secretário que seja
indicação de partido, nunca entreguei a administração. Muitas das
pessoas que trabalham comigo são servidores de carreira da prefeitura,
são da casa, pessoas que conhecem isto aqui há muitos anos. Tanto que
sou criticado no meio político por ter feito um secretariado
excessivamente técnico, maior demonstração de que as alianças, de forma
alguma, afetaram os resultados da administração. Aliás, as alianças me
deram estabilidade política principalmente na relação com a Câmara, uma
relação saudável, boa. Eu não tenho poder econômico, eu não tenho rádio,
eu não tenho a televisão, não tenho os meios de comunicação como meus
adversários, também não sou de um grande partido, então o meu processo
de viabilidade eleitoral passa sim por um amplo processo de aliança e
forças distintas da sociedade guarapuavana.
SI: Como pensa a relação entre gestão atual e a presença
política de ex-prefeitos como uma espécie de ‘conselheiro’? É uma
relação possível?
C.F: Não vejo nenhuma dificuldade em manter este
tipo de relação, muito pelo contrário, com exceção do ex-prefeito
Fernando, que se colocou como adversário da administração desde o
primeiro dia, tenho excelente relacionamento com todos. Inclusive, tive o
privilégio de receber todos em meu gabinete com um diálogo aberto,
tranqüilo, tiveram a oportunidade de colocar seus pontos de vista, suas
opiniões e posso dizer que me considero amigo de todos eles.
SI: Atualmente a figura do político tem estado desacreditada,
sofrendo grande pressão da opinião pública em todas as esferas. Como
passar por este desafio em período de novas eleições ?
C.F: Os políticos e a política estão muito
desgastados por uma série de razões, desde a frustração das expectativas
pela crise econômica, ameaça do desemprego, tudo isso aflora muito os
sentimentos e há uma radicalização muito profunda da sociedade
brasileira hoje, não só com relação à política, mas também com relação a
intolerância religiosa, questão de homofobia, e outros tipos de
preconceitos de toda ordem. O Brasil hoje está dividido, e isso
contamina muito o ambiente local e se perde a racionalidade das coisas.
Enxergo que o grande desafio da política, não no próximo ano, mas na
política do Brasil daqui para frente, é poder se reinventar na relação
com o eleitor de uma maneira não convencional. Se eu soubesse, eu já
estaria fazendo.
SI: Como pensar criticamente a exclusão social presente em Guarapuava?
C.F: Você resolve o problema social de diversas
formas, mas a principal delas é incluir essas pessoas no mercado de
trabalho. De um lado, é garantir o ambiente de trabalho que dê
perspectiva e isto estamos fazendo, atraindo novas indústrias,
formalizamos já 935 novas pequenas empresas qualificadas e com acesso a
crédito para incentivar o empreendedorismo, isso tudo para que a
economia fique mais dinâmica, fazendo com que as famílias possam gerar
renda. Este é o primeiro ponto. E o segundo é a intervenção urbana e
fico muito orgulhoso de poder ter dedicado minha administração à
infraestrutura na periferia, nós tínhamos um ciclo de exacerbada
preocupação com as áreas centrais e nós não descuidamos da beleza da
cidade, mas não abrimos mão de mudar a realidade da periferia.
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