domingo, 13 de dezembro de 2015

“Discordo de quem fala que as alianças prejudicam a gestão”, afirma Silvestri

Em última entrevista de série comemorativa, Silvestri Filho fala sobre os desafios de gestăo diante de grandes expectativas e afirma que a política vive um momento de muitas radicalizaçőes.



 
 
Redação

                Após as comemorações do 196º aniversário de Guarapuava, chegamos ao fim de nossa série de entrevistas com todos os ex-prefeitos que passaram pela  administração municipal.  O amplo panorama de perguntas, debates e reflexões criaou diversas perspectivas sobre o pensamento político que permeou os  processos eleitorais da cidade desde a década de 1960, com a eleição do Sr. Nivaldo Krüger.
                Esta semana concluímos nossa série com interessante entrevista com o atual prefeito, César Silvestri Filho, que, num balanço crítico, analisa seus três primeiros anos de gestão e reflete sobre as necessidades de reinvenção da política como um todo para os próximos anos.  Diante de ponderações, Silvestri Filho comemora a publicação da pesquisa realizada pela revista Isto É e pela agência Austin Rating, em que Guarapuava foi reconhecida como o melhor sistema público de saúde entre os municípios de médio porte do Paraná, alcançando também o 17º lugar do Brasil.




Semanário Integração: Durante sua primeira gestão como prefeito de Guarapuava,  pode fazer uma autocrítica, algo que faria diferente, ou algo que não fez que poderia ter feito?

César Silvestri Filho: Evidente que existe uma grande diferença entre o que você projeta pessoalmente com a realidade que você se depara, nós enfrentamos, em nossa gestão, anos extremamente desafiadores. Como o período econômico bastante difícil já iniciado em 2013; em 2014 ocorreu a enchente que virou do avesso a nossa estrutura e o nosso planejamento, e agora 2015, com a recessão econômica mais severa dos últimos 30 anos. Tudo isso nos fez ter que ajustar nossa rota, mudar prioridades, e evidentemente que isso teve como consequência deixar de fazer algumas coisas. Mas, ao mesmo tempo nós fizemos uma série de outras coisas positivas que tem feito a diferença na cidade e que talvez seja o grande legado da nossa gestão. Há autocrítica, evidente, mas é o processo normal da própria experiência do dia-dia, da caminhada na prefeitura e uma série de outras coisas que ainda precisam ser acertadas.   


SI: Foi criada uma expectativa muito grande no período eleitoral para esta gestão,a credita que essa expectativa tem sido um problema, uma espécie de calcanhar de Aquiles em seu mandato?

C.F: Claro que a alta expectativa acaba sendo um desafio adicional, porque além de realizar, tem de superar as expectativas das pessoas que não têm limites. Alguns imaginavam que nós resolveríamos todos os problemas da cidade em quatro anos, e isso acaba gerando uma pressão grande. A expectativa é uma adversária sim, mas por outro lado isso acaba nos estimulando. Não tenho receio de comparar minha gestão com qualquer outra gestão que nos antecedeu. Isto é a mudança de um paradigma. Eu diria que o grande legado disso tudo é viver a perspectiva de um novo patamar. Guarapuava não é mais a mesma. Em três anos, consolidamos processos de conquistas esperados por décadas. Não é á toa que está acontecendo tudo isso em Guarapuava,  é um processo político, de articulação, de diálogos, de entender que não se faz tudo sozinho.

SI: Alguns críticos dizem que muitas alianças políticas prejudicam a gestão. O que faria de diferente numa eventual reeleição? Pretende diminuir ou aumentar as alianças?

C.F: Eu discordo de quem fala que as alianças prejudicam a gestão, porque em nenhum momento eu franqueei  a administração por partido. Não tenho nenhum secretário que seja indicação de partido, nunca entreguei a administração. Muitas das pessoas que trabalham comigo são servidores de carreira da prefeitura, são da casa, pessoas que conhecem isto aqui há muitos anos. Tanto que sou criticado no meio político por ter feito um secretariado excessivamente técnico, maior demonstração de que as alianças, de forma alguma, afetaram os resultados da administração. Aliás, as alianças me deram estabilidade política principalmente na relação com a Câmara, uma relação saudável, boa. Eu não tenho poder econômico, eu não tenho rádio, eu não tenho a televisão, não tenho os meios de comunicação como meus adversários, também não sou de um grande partido, então o meu processo de viabilidade eleitoral passa sim por um amplo processo de aliança e forças distintas da sociedade guarapuavana.


SI: Como pensa a relação entre gestão atual e a presença política de ex-prefeitos como uma espécie de ‘conselheiro’?  É uma relação possível?

C.F: Não vejo nenhuma dificuldade em manter este tipo de relação, muito pelo contrário, com exceção do ex-prefeito Fernando, que se colocou como adversário da administração desde o primeiro dia, tenho excelente relacionamento com todos. Inclusive, tive o privilégio de receber  todos em meu gabinete com um diálogo aberto, tranqüilo, tiveram a oportunidade de colocar seus pontos de vista, suas opiniões e posso dizer que me considero amigo de todos eles.

SI: Atualmente a figura do político tem estado desacreditada, sofrendo grande pressão da opinião pública em todas as esferas. Como passar por este desafio em período de novas eleições ?

C.F: Os políticos e a política estão muito desgastados por uma série de razões, desde a frustração das expectativas pela crise econômica, ameaça do desemprego, tudo isso aflora muito os sentimentos e há uma radicalização muito profunda da sociedade brasileira hoje, não só com relação à política, mas também com relação a intolerância religiosa, questão de homofobia, e outros tipos de preconceitos de toda ordem. O Brasil hoje está dividido, e isso contamina muito o ambiente local e se perde a racionalidade das coisas. Enxergo que o grande desafio da política, não no próximo ano, mas na política do Brasil daqui para frente, é poder se reinventar na relação com o eleitor de uma maneira não convencional. Se eu soubesse, eu já estaria fazendo.


SI: Como pensar criticamente a exclusão social presente em  Guarapuava?

C.F: Você resolve o problema social de diversas formas, mas a principal delas é incluir essas pessoas no mercado de trabalho. De um lado, é garantir o ambiente de trabalho que dê perspectiva e isto estamos fazendo, atraindo novas indústrias, formalizamos já 935 novas pequenas empresas qualificadas e com acesso a crédito para incentivar o empreendedorismo, isso tudo para que a economia fique mais dinâmica, fazendo com que as famílias possam gerar renda. Este é o primeiro ponto. E o segundo é a intervenção urbana e  fico muito orgulhoso de poder ter dedicado minha administração à infraestrutura na periferia, nós tínhamos um ciclo de exacerbada preocupação com as áreas centrais e nós não descuidamos da beleza da cidade,  mas não abrimos mão de mudar a realidade da periferia.

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